domingo, 10 de fevereiro de 2013

Para Napoleão nada era impossível


 Leonor   Bassani*

O Sr. Luiz Misleri era nosso chefe, sabia  como  impor  sua    autoridade  e nós,  os novatos,  quando  chamados  a sua mesa, até  tremíamos de medo. Lá vinha um severo sermão coletivo (nunca especificava nomes). Quase sempre era para nos cobrar trabalhos perfeitos, num tempo exíguo. Timidamente  respondíamos  que  seria difícil acabar dentro desse prazo, mas  iríamos fazer o possível. Numa certa manhã, empurrou sua confortável cadeira com braçadeiras e em pé, olhando nos olhos de cada um, sentenciou com seu acentuado sotaque italiano: - Façam como Napoleão,  para quem nada era impossível.     

Nesses sermões citava  sempre, grandes nomes da história em alguma situação relevante, e nos instigava a seguir o exemplo. O imperador Bonaparte era o preferido. Se fosse hoje, quando se referisse a ele concordaria que Napoleão foi um estrategista genial, entre os melhores do mundo, mas questionaria, e Waterloo? e a Campanha Russa? Mas naquele início,  apenas  voltava  para minha Remington, a cabeça rodando como  um pião.   Afinal,  quem era Napoleão?

Queria muito conhecer essas pessoas  de quem seu  Misleri  falava. Conversando  com colegas  descobri um tesouro, a biblioteca  da empresa! De onde podíamos retirar  os livros que quiséssemos.  Voltei a estudar à noite, e nos fins de semana e feriados sempre reservava um tempo para as leituras. Penso que  durante os anos  que lá permaneci,   devo ter lido  todos os livros, do meu interesse, que  encontrei. E eram tantos... Mas os sermões, esses, vez ou  outra continuavam. Nos  perguntávamos a razão, de apesar das reclamações, ele  nunca ter dispensado ninguém. Essa resposta só tivemos  quando    foi  promovido para a gerência da  Fábrica Dois.  
                                                       
Foi aí  que veio a grande surpresa. Antes de ir, reuniu todo o grupo. Agradeceu, elogiou... Ao final pediu que ficassem os menores. Nos chamou como sempre chamava, de meninos e meninas, fez uma pausa...  Pensamos: o que virá agora?  Então foi falando do que nunca imagináramos ouvir “ Vou  deixá-los, mas  quero que saibam, fui severo com vocês porque considero a todos como meus filhos. Já estão mais crescidos, podem me compreender. Nunca fui violento, nem mesmo agressivo, apenas precisava ser enérgico”Nos olhamos sem entender bem o que isso significava. Ele percebeu, sorriu e visivelmente comovido acrescentou: Que os grandes da história, só foram grandes porque adotaram princípios de disciplina,  responsabilidade e  comprometimento de  sempre  fazer o melhor.                                                                                

Foi assim que entendi. Aquele prédio da Metalúrgica Eberle,  na Sinimbu,era também a nossa casa. Fomos  adotados muito jovens, e  ali nos foi ensinado  a Honra do Trabalho na vida de cada um.

* Secretária, depois RP 
05/02/2013                                                                                                                                                                                                                          

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