Leonor Bassani*
O Sr. Luiz Misleri era nosso chefe, sabia
como impor sua autoridade e nós, os
novatos, quando chamados a sua mesa, até tremíamos de medo. Lá vinha um severo sermão
coletivo (nunca especificava nomes). Quase sempre era para nos cobrar trabalhos
perfeitos, num tempo exíguo. Timidamente respondíamos que seria
difícil acabar dentro desse prazo, mas
iríamos fazer o possível. Numa certa manhã, empurrou sua confortável cadeira com braçadeiras e em pé, olhando nos olhos de cada um, sentenciou
com seu acentuado sotaque italiano: - Façam como Napoleão, para quem nada era
impossível.
Nesses sermões citava sempre, grandes nomes da história em alguma
situação relevante, e nos instigava a seguir o exemplo. O imperador Bonaparte era
o preferido. Se fosse hoje, quando se referisse a ele concordaria que Napoleão
foi um estrategista genial, entre os melhores do mundo, mas questionaria, e
Waterloo? e a Campanha Russa? Mas naquele
início, apenas voltava para minha Remington, a cabeça rodando
como um pião. Afinal, quem era Napoleão?
Queria muito conhecer essas pessoas de quem seu
Misleri falava. Conversando com colegas descobri um tesouro, a biblioteca da empresa! De onde podíamos retirar os livros que quiséssemos. Voltei a estudar à noite, e nos fins de
semana e feriados sempre reservava um tempo para as leituras. Penso que durante os anos que lá permaneci, devo ter lido
todos os livros, do meu interesse, que encontrei. E eram tantos... Mas os sermões,
esses, vez ou outra continuavam. Nos perguntávamos a razão, de apesar das reclamações,
ele nunca ter dispensado ninguém. Essa
resposta só tivemos quando foi promovido para a gerência da Fábrica Dois.
Foi aí
que veio a grande surpresa. Antes de ir, reuniu todo o grupo. Agradeceu,
elogiou... Ao final pediu que ficassem os
menores. Nos chamou como sempre chamava, de meninos e meninas, fez uma pausa...
Pensamos: o que virá agora? Então foi falando do que nunca imagináramos
ouvir “ Vou deixá-los, mas quero que saibam, fui severo com vocês porque considero
a todos como meus filhos. Já estão mais
crescidos, podem me compreender. Nunca fui violento, nem mesmo agressivo, apenas precisava ser enérgico”. Nos olhamos sem entender bem o que isso significava. Ele percebeu, sorriu e visivelmente comovido acrescentou: Que os grandes da história, só foram grandes porque adotaram princípios de disciplina, responsabilidade e comprometimento de sempre fazer o melhor.
Foi assim que entendi. Aquele prédio da
Metalúrgica Eberle, na Sinimbu,era
também a nossa casa. Fomos adotados
muito jovens, e ali nos foi ensinado a Honra do Trabalho na vida de cada um.
* Secretária, depois RP
05/02/2013
05/02/2013
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